O livro bíblico de Josué
contém o famoso relato de que, durante uma guerra de Josué contra uma coalizão
de reis cananeus, o Sol ficou milagrosamente parado, até que Josué venceu a
guerra. Mas nada consta no livro sobre quando foi essa guerra – o que não impediu
nem a Torre de Vigia e nem outros intérpretes bíblicos de datar o evento. A
Torre de Vigia data o evento como tendo ocorrido num pequeno intervalo de tempo
entre 1473 AEC a 1467 AEC.
Mas os historiadores, ao
combinarem textos egípcios com o relato bíblico, conseguiram fazer ligações
entre ambos, e o relato de Josué, referente ao Sol ficar parado, se entendido como se tratando de um eclipse anular do Sol, pode atestar que o evento ocorreu
em 30 de outubro de 1207 AEC – o que é mais de 250 anos depois da datação feita
pela Torre de Vigia. Veja mais detalhes
sobre isso no vídeo abaixo:
A Torre de Vigia calcula que a
conquista de Canaã por Josué ocorreu durante um período de 6 anos e estava
concluída em 1467 AEC. Ela chega a essa conclusão depois de cálculos muito
particulares, como demostrado abaixo:
537 anos => Chegada dos
judeus a Jerusalém depois de serem libertos do cativeiro babilônico;
70 anos => duração do
cativeiro em Babilônia;
390 anos => Período desde a
queda de Jerusalém até a divisão das tribos no fim do reinado de Salomão (Ezequiel 4: 4, 5);
36 anos => Período do
reinado de Salomão contado desde a data em que ele iniciou a construção do
templo (1 Reis 6:1).
480 anos => Período desde a
libertação dos hebreus do cativeiro egípcio até o início da construção do
templo (1 Reis 6:1).
400 anos => Período de
escravidão no Egito que, em verdade, começou a ser contado desde que Isaque foi
desmamado e sofreu zombaria de seu meio-irmão Ismael, quando Isaque contava com
5 anos de idade (Gênesis 15:13).
Os números acima, adicionado
os 5 anos de Isaque, totalizam 1918 anos e apontariam para 1918 AEC como a data
do nascimento de Isaque.
A essa data, a Torre de Vigia
subtrai os “cerca de 450 anos” citados por Paulo, em Atos 13:17-20, como sendo
o período desde o nascimento de Isaque até a plena conquista de Canaã por
Josué, que seria 1468 AEC (A cronologia bíblica, conforme a interpretação da
Torre de Vigia, é apresentada com rigor neste blog).
Se os historiadores estiverem
certos, o que pode estar errado na cronologia da Torre de Vigia?
Com relação aos faraós do
Egito, já se sabia que os faraós “Ramsés” reinaram por volta dos séculos 13 e
12 a.C. Portanto, se um eclipse está de fato relacionado com o evento relatado
na Bíblia e esse evento é o mesmo citado nos textos egípcios, então é um forte
indício de que a cronologia da Torre de Vigia pode estar errada. Mas em que
partes?
Primeiro, é certo que o período do cativeiro babilônico pode ser reduzido em 20 anos; depois, referente
ao período de tempo após a divisão do reino até a queda de Judá, é bem possível
que a soma dos reinos dos reis daquela época seja bem menor que 390 anos (A
Torre de Vigia, além de se servir dos “390 dias” de Ezequiel, também totaliza
em 390 anos a soma dos reinados de todos os reis do reino de Judá). Nesse caso,
segundo outros intérpretes bíblicos, alguns reinados podem envolver períodos
parcialmente simultâneos, quando o rei nomeia o filho como corregente; e de
fato parece consenso entre os historiadores de que Salomão reinou na segunda
metade do século X a.C, enquanto a Torre de Vigia coloca o reinado dele na
primeira parte do século XI a.C. Mas essa redução ainda é pouca em comparação
com a diferença de cerca de 250 anos constatada em parágrafos anteriores. O
próximo passo, portanto, é saber se estão corretos os 480 anos declarados por
Jeremias, que recuam para 1913 AEC o ano em que os escravos hebreus foram
libertados do Egito antigo – segundo os cálculos da Torre de Vigia, claro! Ocorre que essa foi a época dos faraósTutmés, da XVIII dinastia; mas esses faraós, pelo que se sabe, nunca tiveram
toda uma nação de hebreus como escravos e, contrariando o Salmo 136: 15, que
relata a morte de faraó no Mar Vermelho, os faraós Tutmés foram todos enterrado
no Vale dos Reis, com exceção de Tutmés II, mas que teve a sua múmia
encontrada. Portanto, esses são mais indícios que contrariam a cronologia da
Torre de Vigia.
Jeremias (que viveu por volta
do início do século VII e fim do século VI) escreveu a respeito de eventos que
aconteceram mais de 3 centenas de anos no passado e, portanto, precisou
recorrer a registros da época, como se pode ver em suas próprias palavras
relatadas nos dois livros de Reis:
Nos dois livros, o único compilador [Jeremias] se refere 15 vezes ao “livro dos assuntos dos dias dos reis de Judá” e 18 vezes ao “livro dos assuntos dos dias dos reis de Israel”, também ao “livro dos assuntos de Salomão”. (1 Reis 15:7; 14:19; 11:41) (Toda a Escritura é Inspirada por Deus e Proveitosa, página 64).
Portanto, Jeremias, ao
fornecer o período de 480 anos, teve que confiar que eram exatos os números que
encontrou nos registros antigos, e esses registros, pelo que parece, estão
definitivamente perdidos.
Se tudo isso pesa contra a
cronologia da Torre de Vigia, há um detalhe que pesa contra a recente
interpretação dos historiadores, que avançam a conquista de Canaã para o início
do século 13 a.C. Tudo indica que Josué viveu ainda por uns 20 anos depois da
entrada na terra de Canaã. Após a sua morte, por volta de 1190 a.C., teve
início o período dos juízes. Dessa época até o reinado de Saul são apenas pouco
mais de 100 anos, e isso, para mim, é um período demasiadamente curto para abranger
todos os eventos relatados no livro bíblico de Juízes. É verdade que muitos
juízes atuaram de forma simultânea, em regiões diferentes da recém conquistada
Canaã, mas ainda assim fica a interrogação quanto a se o tempo disponível cobre
todos aqueles eventos.
Mas assim é a história. Passo
a passo, à medida que mais detalhes históricos se tornam disponíveis e à medida
que aumenta e melhora os meios de pesquisas, a história, como um
quebra-cabeça, ganha cada vez mais sentido aos olhos de quem procura
entendê-la.
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